quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PARABÉNS PARA NÓS!!!!!!!!!!! QUINZE DE OUTUBRO

CRÔNICA: QUINZE DE OUTUBRO

Ah! - Quinze de outubro, nos faz parar para pensar, cavalgar nas nuvens, no tempo, como deslizar na cauda de um foguete azul nas lembranças de criança.
Uma jovem professora, numa sala fria, as janelas cobertas por uma cortina branca já com vestígios de muitas gerações que por ali passaram, as paredes manchadas e em alguns pontos o sinal dos tempos se faz sentir. Mas lá estava aquela jovem mulher, a desfilar pelos corredores das carteiras muito bem arrrumadas, num silêncio que era apenas interrompido pelo barulho de seu sapato ao andar pela sala, andando como numa passarela num dia de glamour, ela parava para vistar a tarefa do dia anterior por todas as carteiras que passava. O decote de seu vestido era coberto por um lindo colar de pérolas, que exibia todos os dias, sempre combinando com as estampas de seu vestido, a qual nos fazia olhar maravilhados, pois tinha certeza que meus colegas de sala assim pensavam , mesmo não falando nada para mim, afinal ela aquela mulher tão bonita quanto minha mãe, era a segunda mais bonita mulher que conhecia. Trazia todas as manhãs uma grande bolsa nos ombros e para compensar o peso ,trazia sempre no braço oposto livros e cadernos, num ritual que fazia todos os dias, como as ondas do mar a arrebentarem na praia...
Eu olhava para aquela bela mulher, que só perdia em sua beleza para minha mãe que ficava em casa a cuidar da casa e pensava comigo, como seria minha mãe nas atividades dela e como seria esta mulher no lugar de minha mãe. Mas sabia que ela era nossa segunda mãe, afinal aquela que ficara em casa exclamava sempre: Ela é a sua segunda mãe, respeite-a como se respeitasse a mim!
Quando a professora sentava à sua mesa, sempre muito bem arrumada, com um vaso no canto com rosas vermelhas, que todas as segundas-feiras um entregador lhe levava; ela nos olhava, e eu acompanhava seu olhar, e todos estávamos iguaizinhos, camisa branca engomada e muito bem passada, calças azuis e as meninas, camisas brancas e saias azuis de pregas e todos nós com sapatos pretos muito bem engraxados, nossos cabelos cortados e penteados e os das meninas bem escovados, com um laço azul ou branco . Todos quietos, a prestar a atenção na aula, quem ousava interromper era o giz que raspava de vez em quando aquela parede negra, onde os traços se transformavam em palavras e eu sonhava poder ser chamado por ela para riscar também aquela negra parede que me fascinava.
Ah! - Quinze de Outubro, nos faz relembrar! – Eu, todas as quartas-feiras ao chegar da escola, corria até a fruteira e pegava duas maçãs que eram para o lanche do dia seguinte, colocava as duas no fundo da mala, fazia os deveres da escola e para a rua me dirigia a brincar de castelos medievais e de piratas no Caribe.
Ah! - Quinze de Outubro, lembranças: Logo que a fila era formada no pátio da escola, rezávamos e como era eu o primeiro da fila, estava bem próximo daquela bela mulher que sempre usava uma colônia, e eu sentia em minhas narinas uma fragrância suave, que se misturava com o ar da manhã. E como todos os dias, ela nos levava pelos corredores daquela escola até nossa sala, todos se sentavam em suas carteiras, eu dividia o banco com um chinês , nunca mais o vi, deve ter voltado para seu país. Sentado abria minha mala e do fundo tirava uma das maçãs e timidamente a levava até a mesa , disfarçadamente a colocava sobre a mesa, bem próximo da caneta tinteiro e me sentava o mais rápido possível sem que ela me observasse, ou fazia de conta que não estava me olhando, afinal de contas todas as quintas-feiras eu fazia aquela ação, e ela então ficava de pé e perguntava: Quem foi que colocou esta maçã sobre a mesa? – Eu, timidamente levantava minha mão, com medo de ser repreendido , mas ela me chamava lá na frente e agradecia pelo presente e ainda me dava um beijo na face, onde ficava a marca de seu batom, de seus lábios. Que prêmio valioso eu havia ganho, levava para casa aquele rosto com a marca dos lábios daquela mulher, e sabia que ao chegar em casa minha mãe iria perguntar o que era aquilo e então eu ganharia outro beijo na outra face, na qual também ficaria a marca do baton...
Ah! - O tempo passou e as ondas do mar ainda continuam a ir e a vir , cresci ! -Alguns anos atrás fui visitar a velha escola de realidades e sonhos, parei no pátio, percorri os corredores, entrei na sala que um dia foi minha, novas carteiras, paredes pintadas, lousa nova, fiquei em silêncio por alguns instantes e fui interrompido por uma velha mulher que entrou na sala a carregar um livro e perguntou -me : O que o senhor deseja? - Eu respondi que estava de passagem e que resolvera visitar o local onde estudara quando pequeno .
A velha senhora, muito bem vestida com um sorriso perguntou: Trouxeste meu presente, hoje é quinta-feira? - Olhei assustado para aquela velha senhora, aproximei-me e descobri que era a minha bela professora, que estava viva e que se lembrava de mim. Então exclamei: Hoje eu não trouxe uma maçã, mas momentos antes da senhora entrar, estava a olhar esta sala e a imaginar se um dia tornaria a encontrá-la, e cá está a senhora! –Não trouxe a maçã e sim agradeço-lhe por ter me tornado PROFESSOR! - E ela com um sorriso : Filho, eu me lembro de você, das suas frutas, e você aprendeu bem minhas lições!
Saímos pelo corredor de braços dados a conversar ...
PROFESSOR , PARABÉNS PELO NOSSO DIA, NÃO ESQUEÇA DE REGISTRAR SUA HISTÓRIA, SEU ALUNO IRÁ AMAR!


Nilo João Simões de Castro
CRÔNICAS

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